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segunda-feira, 30 de maio de 2016

Natação Feminina Brasileira


Segue um artigo sobre a natação feminina brasileira bastante interessante da ESPN.


Raio-X da natação feminina brasileira: dependência de “geração espontânea”.

Raio-X da natação feminina brasileira: dependência de “geração espontânea”
Lucas Coelho
A natação feminina brasileira nunca teve grande tradição olímpica. Desde Maria Lenk e seu esforço tremendo para disputar os Jogos de 1932 e 1936 ao lado de outras conterrâneas, sempre foi um esporte que dependeu muito mais da dedicação e paixão das atletas do que de qualquer tipo de apoio externo.
As conquistas e participações inconstantes ao longo da história mostram bem que o Brasil só ganha algum destaque quando, por algum motivo qualquer, surgem algumas nadadoras de talento. Por isso, a psicóloga e professora da Escola de Educação Física e Esporte da USP, Katia Rubio, acredita que os últimos bons resultados do país podem ser explicados através do “criacionismo”.
“Geração espontânea, não vejo outra coisa”, afirma Rubio. “Os projetos de natação que aconteceram neste ciclo olímpico apenas correram atrás de um prejuízo. Nenhum deles foi direcionado para elas em específico.”
Apesar disso, nomes como Etiene Medeiros, Joanna Maranhão, Ana Marcela Cunha e Poliana Okimoto ganharam destaque nos últimos anos. Nos jogos Pan-americanos de 2015, em Toronto, o Brasil conquistou oito medalhas, sendo cinco de bronze, duas de prata e um ouro com Etiene no 100m costas.
“O desempenho tem melhorado, é inegável, tanto nas provas coletivas como individuais. A natação feminina nunca conseguiu grande destaque em Olimpíadas. As políticas públicas para a natação brasileira praticamente não existem. Daí surge uma geração talentosa, e os dirigentes correm atrás para tentar tirar proveito de uma situação”, critica a professora.
Para entender melhor o que Katia Rubio quis dizer com “geração espontânea”, o espnW fez um raio-X da natação feminina brasileira. Especialmente ao longo do século XX, a falta de apoio e investimento fica caracterizada nos resultados e participações das atletas. Veja:
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A prova dos 50m livre apareceu pela primeira vez nas Olimpíadas em 1904 e acabou ficando fora das competições até 1988, quando retornou em Seul. O Brasil obteve o 17º lugar com Adriana Pereira e depois amargou 16 anos de ausência. Em 2004, Flávia Delaroli, blogueira especialista em natação do espnW, conseguiu chegar à final, terminando na 8ª posição, e obteve o resultado olímpico mais expressivos das brasileiras na modalidade.
O 100m livre é a prova onde as atletas do país mais tiveram espaço ao longo da história, começando com Maria Lenk em 1932 até as participações seguidas nos últimos anos. Das 14 vezes em que o Brasil conseguiu emplacar nadadoras nos Jogos Olímpicos, os melhores resultados foram de Piedade Coutinho. Ela nadou em Berlim, em 1936, alcançando a 8ª colocação. Após a 2ª Guerra Mundial – e o cancelamento dos jogos de 1940 e 1944 – ela se destacou novamente, chegando em 12º em Londres 1948.
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Nos 200m livre feminino, o Brasil só participou de um terço das edições olímpicas. Com a prova entrando no programa em 1968, apenas Lucy Burle (1972), Patrícia Amorim (1988), Mariana Brochado (2004) e Monique Ferreira (2008) se classificaram para a disputa. Após nova ausência em 2012, no Rio de Janeiro as anfitriãs estarão na prova com Larissa Oliveira e Manuella Lyrio.
Depois dos 100m livre, a disputa na qual as brasileiras têm maior presença é nos 400m livre, graças, novamente, a Piedade Coutinho, que, além de nadar em três Jogos seguidos (1936, 1948 e 1952), também conseguiu ótimos resultados com o 5º lugar em Berlim e o 6º em Londres. Após Coutinho, foram mais quatro participações, com destaque para Monique Ferreira, que esteve em 2004 e 2008.
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Considerada uma prova de resistência mais do que velocidade, o 800m livre apareceu nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, em 1968, quando diversas outras modalidades passaram a incrementar a competição feminina. Pelo Brasil, somente Maria Guimarães em Montreal (1976) e Patrícia Amorim em Seul (1988) chegaram a disputar.
Maior esperança de medalha brasileira na natação feminina, a maratona aquática de 10km surgiu apenas na Olimpíada de 2008, e duas atletas nacionais têm tido destaque nos últimos oito anos: Poliana Okimoto e Ana Marcela Cunha. Em Pequim, elas tiveram bom desempenho, chegando em 7º e 5º lugar, respectivamente. Em Londres, apenas Okimoto participou, mas precisou abandonar devido a um quadro de hipotermia. Ambas estarão na água na Rio 2016.
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Aparecendo pela primeira vez como modalidade olímpica em 1956, o 100m borboleta só foi contar com brasileiras 20 anos depois, em Montreal, quando Rosemary Ribeiro e Flávia Nadulatti (de apenas 15 anos na época) não passaram da primeira eliminatória. Daynara de Paula foi a única do país que disputou a prova mais de uma vez – 2008 e 2012 -, mas o resultado mais expressivo foi a 7ª colocação de Gabriella Silva na China.
Nos 200m, a história é semelhante. São somente quatro participações em períodos específicos, entre 1972 e 1976, com Maria Isabel Guerra e Rosemary Ribeiro, e depois nas duas últimas Olimpíadas com Joanna Maranhão.
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A evidência maior de que a natação feminina brasileira depende de uma “geração espontânea” de talentos são as provas do nado peito. Sem contar com nenhuma anfitriã na Rio 2016, a modalidade teve poucas atletas do país ao longo da história. A dos 200m é mais antiga, sendo disputada desde a Olimpíada de Paris 1924, e teve Maria Lenk como representante verde e amarela em 1932 e 1936 – o 100m peito só foi implementado em 1968. Cristina Teixeira disputou as duas distâncias em 1972 e 1976. Desde então, somente Tatiane Sakemi nadou ambas as provas em Pequim.
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O grande nome do medley brasileiro feminino é Joanna Maranhão. Ela já esteve em três jogos olímpicos nos 200m e em dois nos 400m. No Rio de Janeiro, irá para sua quarta Olimpíada seguida e vai nadar as duas provas. O seu resultado mais expressivo foi o 5º lugar na China, disputando o 400m. Maria Isabel Guerra, em 1972, também disputou as duas modalidades, e Gabrielle Rose se classificou para os 200m em 1996.
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Assim como o 200m peito e 100m livres, o 100m costas faz parte da história das brasileiras em Olimpíadas por ter sido uma das provas disputadas por Maria Lenk em 1932. Ela acabou desclassificada, mas seu pioneirismo foi importante para sua irmã, Sieglinda Lenk, conseguir o 20º lugar quatro anos depois. Edith de Oliveira, 1948 e 1952, e Fabíola Molina, nos anos 2000, foram as outras únicas atletas do país na prova.
No revezamento 4×100 medley, a única participação aconteceu em Pequim, com um bom 10º lugar. Este ano, o Brasil ainda tenta se classificar. Caso consiga, terá de chamar mais duas nadadoras para compor a equipe e, se isso acontecer, será a primeira vez na história que as brasileiras disputarão os três revezamentos em uma edição dos Jogos Olímpicos.
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Nos revezamentos de nado livre, as participações espaçadas são emblemáticas da raridade que é para o Brasil juntar talentos suficientes para compor uma equipe. Agora, com as mulheres conquistando mais espaço no esporte de uma maneira geral, a terceira e inédita participação seguida no 4x100m, além da disputa do 4x200m, sinalizam uma mudança da realidade.
Se os hiatos de presença brasileira feminina na natação realmente ficaram para trás, só será possível saber no futuro. Nas últimas edições dos Jogos Olímpicos, as atletas do país estão mantendo uma continuidade e se classificando em mais provas, mas as críticas em relação à falta de apoio aos diversos esportes aquáticos ainda não cessaram. De qualquer maneira, a participação significativa no Rio de Janeiro já é um marco. Veja abaixo um gráfico das participações totais das brasileiras ao longo da história, e conheça as mulheres que irão representar o país no Rio de Janeiro.
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